quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os donos da arte: crianças de Fazenda Coutos subvertem estereótipo e brilham em montagem teatral



Por Iris Queiroz

No palco, 47 crianças entre cinco e onze anos encenam uma montagem que enfoca a cultura nordestina. Elas fazem parte do Projeto de Iniciação Musical, o PIM. No dia sete de abril, a galerinha do PIM ganhou o Prêmio Braskem de Teatro, nas categorias Melhor Espetáculo Infantil e Melhor Diretor com a peça Donos da Terra. O diretor é João Gonzaga, arte-educador da escola comunitária João Miguel que abriga o projeto e que existe a quinze anos no bairro de Fazenda Coutos. Na peça, são intercaladas atuações com citações de textos de autores brasileiros tendo como um dos propósitos o estímulo á leitura.
Gonzaga destaca a importância do reconhecimento para a população de Coutos, bairro que, na maioria das vezes, ganha destaque negativo na mídia devido ao estereótipo de local violento. “O prêmio é um ganho enorme. Dá visibilidade para as coisas boas que acontecem na nossa comunidade”, diz. Segundo o educador, a mídia, no geral, mostra a comunidade como sendo um local violento e só. Para ele, iniciativas como o PIM faz com que a população passe a sentir mais orgulho de fazer parte desse contexto. “As crianças ficam felizes porque fazem parte desta realidade. E, além do PIM, acontecem inúmeros projetos dentro da comunidade. Lá tem violência como em qualquer lugar”, argumenta.


Eliel Santos, 10 anos, canta, dança e toca. Para ele, o grande benefício do projeto é o fato de ocupar o tempo que geralmente poderia ser gasto na rua. “A gente é da periferia, então o projeto ajuda a tirar essas coisas ruins, e também eu estou famoso”, conta. “Os meninos participam de todo o processo de montagem. “O trabalho é grande e tudo é pensado junto com eles. Eles opinam desde a escolha das fantasias à seleção dos textos. Tudo é feito em conjunto”, enfatiza Gonzaga. Adriele Sena de sete anos que estuda na primeira série e é outra participante da montagem. Ela fala com alegria da participação no PIM. “ Tudo eu tenho aqui. Alegria, amor, educação e arte”. Os meninos falam com grande excitação sobre o fato de agora serem conhecidos no local onde moram. “ Todos falam comigo: eu vi essa menina na televisão, ela é do PIM”, relata Adriele.




Segundo o advogado Roquildes Santos, a cidadania é para a constituição decorrente, ante de tudo, de uma determinação legal no Estado Democrático de Direito. “Aqui no Brasil o Estado Social nunca se constituiu como um instrumento pleno de formação e organização da Sociedade. Com as mudanças ocorridas por conta do projeto neoliberal e de globalização, herdamos não apenas as teorias, mas, sobretudo o projeto do Estado Mínimo”, analisa Santos.
Para ele, estas teorias afirmavam que em um país com extrema desigualdade social, não há como se efetivar todos os direitos fundamentais para todas as pessoas, embora seja este um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito brasileiro. “Mesmo para crianças e adolescentes, pessoas contempladas com o princípio da absoluta prioridade, esta realidade é impossível. Assim sendo, percebe-se que a teoria do mínimo fortaleceu algumas iniciativas como as ONGS, para se garantir às pessoas em formação um mínimo necessário para que existam de forma digna”, argumenta. O advogado acredita, porém, que o sucesso de projetos como o PIM não atinge um grande número daqueles e daquelas que estão excluídos de qualquer política social pelo Estado Mínimo. “Essas instituições não têm poder, seja econômico seja social para garantir as demandas de toda uma população, logo, só alguns serão os beneficiados”.

Foto: arquivo PIM


Um comentário:


  1. Arte é a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular esse interesse de consciência em um ou mais espectadores. Arte e Cultura compreendem conhecimento crença valores normas símbolos costumes leis tradições hábitos personagem e através da arte e da cultura que o povo se manifesta, que vê seu rosto e seu jeito representado em cada voz, em cada encenação e melodia. E esse projeto compreende todos esses sentimentos em espetáculos lindos e contagiante. Parabéns João e toda equipe do projeto PIN.

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