quinta-feira, 17 de junho de 2010

Trabalhar lado a lado


Por Sara Gomes

Além de conversar com a filha de 14 anos, a técnica em enfermagem Elizângela Bonfim Santos gosta de fazer uma “visitinha” à Escola Estadual Dirlene Mendonça, localizada em Mussurunga II, onde a menina estuda. A conversa freqüente com os professores gira em torno das notas, freqüência e comportamento de Juliana Santos Varela, que este ano cursa o nono ano do Ensino Fundamental II. “É muito importante a participação dos pais no processo de aprendizado dos filhos. Além de cobrar e acompanhar o desempenho dela, eu vou lá para cobrar melhorias na qualidade de ensino e de estrutura da escola”. Para ela, a união entre escola e família é importante no desenvolvimento das crianças e adolescentes.

Em muitos casos o que se verifica são professores reclamando da não–participação dos pais na vida escolar dos filhos e pais criticando a forma de educar dos professores. Para a pedagoga e mãe Maria da Glória Rocha, família e escola devem trabalhar em parceria, por serem fundamentais na vida das crianças. “A ausência dos pais dificulta muito o nosso trabalho. Tem que haver uma relação de confiança. Nenhuma das partes pode se ausentar”, afirma. De acordo com ela, o apoio dos pais colabora tanto no aprendizado como no comportamento dos estudantes.

Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência”. O ECA afirma, ainda, que é direito dos pais participarem do processo pedagógico e da definição das propostas educacionais.

Apesar de ser visto pelos adolescentes como um comportamento “careta”, Juliana sabe a importância da participação da mãe na escola onde estuda. “É um direito dela saber o que está ocorrendo, mas não adianta nada se só for uma mãe. Mais mães devem ir para pressionar e dar um impulso na escola”, afirma.

Clube de Leitura na biblioteca



Por Iris Queiroz


A casa é construída de madeira envernizada, no meio da praça principal. Lá dentro, crianças modelam bonecos em papel marché e realizam leituras. As janelas do local também ficam apinhadas de mais crianças. É sábado, não há aulas, mas todas elas estão na Biblioteca Comunitária de Areias, distrito de Camaçari, região metropolitana de Salvador. Neste espaço, funciona o Clube de Leitura, um projeto patrocinado por uma fábrica da região e gerido pela Associação dos Moradores Unidos de Areias. O objetivo principal é incentivar meninos e meninas a lerem, utilizando ferramentas como contação de história, jogos educativos, oficina do escritor, teatro, desenho e outras atividades lúdicas.


O psicólogo Romi Nascimento está à frente do projeto desde seu início, em 2007. Ele conta que quando começou a trabalhar na Biblioteca percebeu o déficit com relação á leitura que existia. “O local era utilizado somente para assistir televisão e uma ou outra criança vinha fazer o dever de casa. Então, depois do projeto Clube de Leitura as pessoas começaram a ler mais e melhor. Tanto as crianças quanto os pais”. O fato de as crianças não virem de um ambiente “letrado”, segundo ele, era um motivo para elas não se interessarem pela leitura.

O advogado Roquildes Santos salienta que, culturalmente, as pessoas costumam cobrar apenas do estado a obrigação de fornecer educação às crianças. Porém, este não é o único responsável pela garantia desse direito e reforça que a família tem importante papel nesse aspecto. "Mesmo para crianças e adolescentes, pessoas contempladas com o princípio da absoluta prioridade, esta realidade é impossível. Assim sendo, percebe-se que a teoria do estado mínimo fortaleceu algumas iniciativas como as ONGS", assevera.
Tanto a Constituição Federal, através do artigo 227, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), prevêem que a família, a sociedade e o Estado devem assegurar os direitos fundamentais desses sujeitos, e aí se inclui a educação, com absoluta prioridade.


Segundo a avaliação do psicólogo, o nível de leitura das crianças tem crescido e as próprias professoras da escola que eles frequentam comentam sobre os benefícios. “A biblioteca da escola tinha fechado e, por isso, eles tiveram que arranjar outro espaço para colocar os livros, porque os alunos estavam demandando uma maior quantidade e variedade dos livros. Então, eu acho que o Clube de Leitura possui um papel importante na formação dessas crianças, que agora são crianças letradas e não apenas alfabetizadas”, analisa. Para ilustrar, ele cita o exemplo de uma menina que leu 60 livros em apenas um mês.

Iniciativas como o Clube de Leitura geralmente tentam preencher as lacunas deixadas pela educação escolar formal. As crianças dizem que ir á biblioteca ler e participar das oficinas ocupa um tempo que ficaria ocioso e que seria gasto na rua. No distrito de Areias, a população é, no geral, de pessoas simples, de baixo poder aquisitivo. O local também não oferece uma boa estrutura de lazer para crianças e adolescentes. As escolas públicas, em sua maioria, também não contam com uma boa infra-estrutura nem com professores bem preparados. Estes fatores dificultam o bom aprendizado dos alunos. Ao participar em projetos como esse, as crianças acabam tendo oportunidades para o desenvolvimento pessoal, valorização da identidade, cidadania e auto-estima, ajudando também na identificação de suas potencialidades.
A pedagoga Maria Bernardete Cardoso Gomes salienta que “é muito importante a participação das crianças em projetos de incentivo à leitura, mas nem a escola e nem a família devem ficar fora desse processo de aprendizagem. Os pais e as escolas podem apoiar participando junto com as crianças. A presença deles colabora para que as crianças desenvolvam mais rápido o gosto pela leitura”.

Imagem em:www.bichoesperto.com.br